
Decisões de alto risco
Decisões de alto risco podem redesenhar a trajectória de uma organização e testar as capacidades de liderança nos momentos mais delicados. Nesta fase, o modo como a liderança comunica tem um peso determinante nos resultados, pois cada palavra dita — ou omitida — pode reforçar ou abalar a confiança de equipas, investidores e parceiros. Para quem ocupa cargos de topo, a clareza e o impacto das mensagens em situações de elevada pressão diferenciam trajectórias de sucesso de percursos marcados por incerteza.
Neste artigo vamos reflectir sobre como nos podemos preparar para os cenários onde as consequências são significativas e o relógio parece acelerar. Vamos identificar o que costuma falhar na comunicação sob stress e propomos três passos para aumentar a eficácia das acções neste contexto. A aplicação destas dicas favorece a coesão interna e facilita a transmissão de orientações coerentes.
Vamos analisar também como alguns executivos usam estratégias específicas em entrevistas à imprensa ou em momentos de crise nas empresas.
Desafio comum em ambientes de alta pressão.
Quando o risco é significativo, o nível de ansiedade cresce. Essa tensão reflecte-se como comunicamos. É frequente observar líderes a multiplicarem pormenores ou a recorrerem a discursos confusos, numa tentativa de transmitir tudo ao mesmo tempo. O resultado? Mensagens que não inspiram segurança.
Há também o fenómeno da pressa comunicacional, em que a urgência dita o ritmo das acções, mas as pessoas não param para planear o conteúdo a transmitir. Esse impulso pode gerar ambiguidades: palavras ditas sem reflexão, que são posteriormente desmentidas ou corrigidas, minam a credibilidade. A falta de previsibilidade desencadeia boatos internos e críticas externas.
Consequências directas
- Descoordenação interna: as equipas sem uma orientação clara correm o risco de executar tarefas contraditórias ou duplicadas.
- Insegurança entre colaboradores: a percepção de improviso ou de falta de solidez na comunicação abala a moral, e leva a suposições negativas.
- Desconfiança de investidores e da imprensa: quando os porta-vozes ou a liderança não clarificam os planos, ou evitam perguntas directas, alimentam especulações, o que pode, em casos extremos, desvalorizar a imagem corporativa.
Três dicas práticas para comunicar com clareza e impacto.
1. Simplificar a mensagem
Em vez de inundarmos a audiência com todos os dados disponíveis, podemos optar por partilhar apenas a informação mais relevante. Focarmo-nos nas prioridades permite construir um discurso que, apesar de curto, é directo e esclarecedor.
Exemplo prático: Numa crise de reputação, um porta-voz que salta de tópico em tópico pode aumentar a confusão. Já aquele que começa por indicar qual o problema exacto, quais os factos confirmados e que medidas imediatas serão adoptadas, mostra controle e transparência.
Como aplicar?
- Elabore uma lista de pontos essenciais antes de cada aparição pública ou reunião estratégica.
- Use metáforas ou analogias, caso a audiência não seja técnica, mas evite distracções que desviem do cerne da questão.
- Subdivida as informações em blocos claros, como: situação actual, medidas para o momento, perspectivas futuras.
2. Antecipar cenários e preparar respostas.
Sob pressão, as perguntas costumam ser duras e directas. Os investidores querem saber quais são os impactos financeiros, os colaboradores têm medo de despedimentos ou mudanças drásticas, os jornalistas procuram detalhes importantes e informativos que respondam às perguntas do público. O segredo está em antecipar os cenários mais prováveis e preparar respostas objectivas.
Exemplo prático: Antes de conceder uma entrevista sobre um atraso no lançamento de um produto, é recomendável escrever as possíveis questões que um repórter faria, incluindo as mais difíceis, e ensaiar respostas.
Vantagens:
- A segurança na fala aumenta, transmitindo confiança ao público.
- Reduz-se a probabilidade de reacções emotivas ou de comentários impulsivos que possam inflamar a situação.
- Mantém-se o controlo da narrativa, pois quem comunica mostra capacidade de lidar com dúvidas inevitáveis.
3. Reforçar a empatia e a coerência.
Mesmo em contextos de alta pressão, a componente humana não deve ser esquecida. As lideranças que reconhecem o impacto emocional de cada decisão nos colaboradores e parceiros tendem a receber mais abertura para dialogar.
Exemplo prático: Durante um anúncio de reestruturação, um administrador pode partilhar de forma sincera as razões que levaram à decisão, sublinhar as preocupações centrais e explicar como as pessoas serão apoiadas durante a transição. Este gesto de consideração diminui o clima de choque ou de revolta.
Pontos-chave:
- A escolha de palavras com um tom construtivo e respeitoso cria maior disponibilidade para ouvir.
- A coerência entre discurso e acção, por exemplo, anunciar cortes, mas, ao mesmo tempo, adoptar medidas de apoio aos colaboradores afectados, vai preservar a lealdade interna.
- Mostrar disponibilidade para perguntas e para acolher sugestões reforça a credibilidade.
Exemplos: imprensa, crises internas e negociações
- Manter a consistência nas entrevistas: se num canal televisivo o líder diz Estamos comprometidos com este projecto a longo prazo e, em seguida, noutro meio, afirma Não sabemos se continuaremos, as manchetes vão mostrar a incoerência.
- Alinhar discurso com a equipa: em crises internas, formar um pequeno núcleo que receba informação clara e a dissemine pelos departamentos evita que cada gestor transmita versões divergentes.
- Negociações de alto valor: empresários que comunicam confiança e se apresentam seguros das projecções, mas que mantêm abertura para esclarecimentos, tendem a atrair parceiros e a reduzir tensões.
Liderar com a pressão no momento-chave
Muitas vezes, a elevada pressão não só apenas da complexidade do assunto, mas também do tempo limitado para responder. Decisões de alto risco podem decorrer de oportunidades únicas ou de ameaças iminentes. A compressão temporal intensifica o desafio de comunicar de forma eficaz.
- Estratégia para foco: dedicar alguns minutos para organizar o pensamento antes de falar em público ou com a imprensa. Este momento de preparação reduz a probabilidade de deslizes.
- Criação de um guia de crise: documento sintético, acessível a todos os gestores de topo, com linhas gerais de actuação e comunicação, garantindo consistência mesmo sob imprevistos.
Concluindo
Em cenários de tomada de decisões de alto risco, a forma como um líder comunica pode fortalecer ou fragilizar a organização inteira. Decisões de alto risco exigem um discurso estruturado, simples e que mostre empatia. Preparar antecipadamente as respostas mais sensíveis, manter a coerência entre o que se diz e o que se faz e transmitir mensagens sem rodeios, são pilares que ajudam a moldar uma reputação de confiança.
Qual é a sua principal estratégia para comunicar tomada de decisões de alto risco? Partilhe a sua perspectiva e descubra novas abordagens capazes de elevar a clareza e o impacto das suas intervenções em períodos críticos.